Dividindo (semana 19/07 a 25/07) "Graça"

No Brasil a tradição judaico-cristã-ocidental tem servido de pano de fundo para a construção histórica da vida de cada um de nós. Assim já acontecia na Grécia Antiga, com os vários símbolos advindos da cultura mitológica enraizados na sociedade. Ainda que os grandes filósofos não acreditassem nas histórias de Homero, as usavam para ilustrar suas proposições porque faziam parte do imaginário de todos naquela região naquela época.

Acreditamos, por conta dessa cultura, que nossa relação com Deus é como um contrato – com duas partes em lados opostos com deveres e obrigações recíprocos. A lógica seria a seguinte: se eu cumpro minhas obrigações tenho direitos, meus direitos seriam as obrigações de Deus e vice-versa. Esse sistema religiosos é baseado na lei – se obedeço, Deus me abençoa, se não, me amaldiçoa. “Faço minha parte para que Deus faça a Dele”, é assim que intuitivamente pensamos. Se este ser é superior, suas obrigações também o são. Para agradar a um Deus perfeito, tenho que ser perfeito. O problema é que não consigo cumprir todas as minhas obrigações e começo a conviver com a culpa. Uma vez culpado, passo a conviver com o medo de que ele requeira de mim seus direitos. Seria o pensamento de que “se você não sair da Internet e ir ter tempo com Deus ele vai te castigar”.

Como escapar da culpa e do medo? Com suborno. Quanto mais culpado me sinto, mais disposto estou a um sacrifício. Santo Agostinho baseou seu cristianismo no direito romano, em que a pena do criminoso era com base na pessoa do ofendido, quanto maior a qualificação do ofendido, mais grave a pena. Se desse um tapa na cara do escravo não tinha pena nenhuma, se ofendesse o imperador tinha pena de morte. E se o ofendido é Deus? Não há como pagar! Infinito é o que tem começo, mas não tem fim. Eterno é o que não tem começo nem fim. Como pagar uma dívida eterna? Só alguém eterno – Deus.

A pessoa de Jesus responde a pergunta. Nossa relação não é baseada em lei. Aí está a diferença do evangelho de Jesus Cristo em relação às demais crenças. Não precisa mais se relacionar com Deus com base na culpa, no medo, no sacrifício – Jesus já fez. Isso é a graça. Não há nada que eu possa fazer para pagar. Ef 2:8,9.

Deus não nos abençoa porque nós merecemos, Deus nos abençoa porque ele é amor. O amor lança fora o medo (IJo 4:18). Todo relacionamento baseado em mérito e demérito é um relacionamento destrutivo, com Deus também. Não tenho crédito por cumprir com minhas obrigações. A expressão “por que Deus fez isso comigo?” está dizendo na verdade “o que eu fiz de errado, o que eu deixei de fazer?”.

Assim como acontecia na Grécia acontece conosco, ocidentais. Os elementos da religião cristã estão de tal maneira impregnados no nosso meio, que fazem parte do nosso dia-a-dia sem que sequer tenhamos esta percepção. Infelizmente este imaginário extrapola em muito a Bíblia e o que realmente Deus é. Por conta disso temos conceitos equivocados do Pai e do seu amor por nós. Como cristãos temos de superar isso nutrindo nossa alma com a leitura da Bíblia e conhecendo o Deus de verdade.

Texto longo, pesado, mas importante lembrar estas coisas. Perguntinha da semana: como está sua leitura da Bíblia? Qual Deus tem conhecido através dela? Deixe pra gente suas opiniões/ comentários.